quinta-feira, 1 de julho de 2010

Comunhão Reparadora dos Primeiros Sábados: como obter a assistência de Nossa Senhora na hora da morte



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Plinio Maria Solimeo
Muitos já ouviram falar da Comunhão dos primeiros sábados. Mas poucos compreendem a fundo o seu real significado. Por isso, não a praticam com as disposições de alma desejadas por Nossa Senhora de Fátima. Comemorando-se em maio próximo o 80º aniversário do início das aparições de Fátima, julgamos oportuno apresentar aqui tal devoção, bem como alguns comentários, tendo em vista ajudar nossos leitores a obterem o máximo proveito dessa prática de piedade, certamente indispensável em nossa época, imersa no neopaganismo.
Porém, para se compreender bem o alcance de uma revelação, é necessário ter-se presente o contexto no qual se encaixa. A da Comunhão dos Primeiros Sábados, se bem que em seus detalhes tenha sido revelada posteriormente, constitui parte essencial das aparições de Fátima que, em sua substância, pode ser resumida em reparação a Deus, feita por meio da oração e da penitência. É assim que deve ser entendida como veremos a seguir.
"Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração"
Na sua segunda aparição, em 13 de junho de 1917, Nossa Senhora disse claramente a Lúcia: "Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração". E fez ver aos videntes o seu Coração cercado de espinhos -- símbolos dos pecados da humanidade -- e que queria reparação.
A Santíssima Virgem, ao aparecer pela terceira vez aos três videntes -- Lúcia, Francisco e Jacinta -- deu-lhes  uma idéia mais pungente da gravidade do pecado e, portanto, da necessidade da reparação, mostrando-lhes ver o inferno. Para dele salvar a multidão dos pecadores, repete Ela, "Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração".
 Por desígnios insondáveis de Deus, só essa devoção poderia então salvar o mundo. Se não fosse seguida, viriam castigos e uma guerra ainda maior; "para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados.
Aqui Nossa Senhora menciona pela primeira vez essa comunhão reparadora, como meio de evitar a punição.
Se mais esse apelo não fosse ouvido, castigos maiores abater-se-iam sobre o mundo, por meio da Rússia. No entanto, quando tudo parecer perdido, os acontecimentos tomarão outro rumo, pois, afirma Ela, "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará".
Obtenha graças recorrendo a Maria
Pouco depois das aparições Nossa Senhora, como havia prometido, levou Francisco para o Céu. Jacinta quis permanecer um pouco mais na terra para sofrer pelos pecadores, e sobre ela se abateram inúmeros sofrimentos físicos e morais. O pior deles foi para ela o de morrer sozinha num hospital de Lisboa. Nossa Senhora, entretanto, não a abandonou e, em várias visitas, instrui-a em sua missão reparadora. Um dia antes de seu falecimento, Jacinta chamou Lúcia, dizendo-lhe: "Daqui a pouco irei para o céu. V. ficará aqui para tornar conhecida a vontade de Deus de que se estabeleça a devoção ao Imaculado Coração de Maria no mundo. Quando o tempo de falar chegar, não se esconda. Diga a todo mundo que Deus concede Suas graças através do Imaculado Coração de Maria, que as devemos pedir a Ela, e que o Coração de Jesus quer que o Imaculado Coração de Maria seja honrado juntamente com o seu, que se deve pedir ao Imaculado Coração de Maria pela paz, porque Deus colocou-a sob sua custódia”.
A revelação dos Primeiros Sábados
Lúcia, a única sobrevivente desses celestes contatos, entrou para o Instituto de Santa Dorotéia, onde tomou o nome de Irmã Maria das Dores. Estando no dia 10 de dezembro de 1925 em sua cela, no convento de Pontevedra, Espanha, apareceu-lhe a Santíssima Virgem, tendo ao lado o Menino Jesus, sobre uma nuvem luminosa. Este, mostrando-lhe um coração cercado de espinhos que tinha na outra mão, disse-lhe: "Tem pena do Coração de tua Santíssima Mãe, que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam, sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar". A Santíssima Virgem acrescentou: "Olha, minha filha, o meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar, e dize que todos aqueles que durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um terço e Me fizerem quinze minutos de companhia meditando nos quinze mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistí-los na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas".
Esta devoção tem, assim, a finalidade de reparar o Coração Imaculado de Maria pelas ofensas dos homens. E deve ser praticada em cinco primeiros sábados consecutivos. Divide-se em vários ítens, todos indispensáveis:
1 - confissão; (1)
2 - comunhão;
3 - recitação do terço;
4 - e quinze minutos de companhia a Nossa Senhora meditando nos quinze mistérios do Rosário (2).
Na prática, como seguir esta devoção?
Evidentemente a pergunta que se impõe é como praticar essa devoção em nossos dias, no contexto da mensagem de Fátima. Para respondê-la, é necessário considerar-se em primeiro lugar o que é que tanto fazia sofrer o Imaculado Coração de Maria na época das aparições, clamando por reparação, e, em nossos dias, o que acontece a este respeito.
Para isso, pode-se aduzir vários dados revelados por Nossa Senhora a Jacinta. Mas, por brevidade, vamos considerar apenas três pontos:
1 - "Minha madrinha (3), peça muito pelos Padres! Peça muito pelos Religiosos! Os Padres só deviam ocupar-se das coisas da Igreja. Os Padres devem ser puros, muito puros".
"A desobediência dos Padres e dos Religiosos aos seus Superiores e ao Santo Padre ofende muito a Nosso Senhor".
* É o clero de hoje mais virtuoso que o daquela época? Infelizmente não. Basta lembrar que hoje em dia a maioria dos eclesiásticos sente-se mal em trajar-se como pessoas consagradas. E também constatar o número crescente de sacerdotes -- religiosos e seculares -- que não prezam a virtude da pureza, sendo de se perguntar se cumprem o voto de castidade que fizeram.
2 - "Minha madrinha, peça muito pelos governos! ≡i dos que perseguem a Religião de Nosso Senhor! Se o governo deixasse em paz a Igreja e desse a liberdade à Santa Religião, era abençoado por Deus".
* Para analisarmos um só aspecto: que governo moderno não tem aprovado pecados públicos e oficiais contra Deus, como o divórcio, o aborto, o "casamento" homossexual...  -- para ficar só no campo moral?
3 - "Os pecados que levam mais almas para o inferno são os pecados da carne".
"Hão de vir modas que hão de ofender muito a Nosso Senhor.
"As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. A Igreja não tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo".
* Houve jamais época em que se perdesse mais completamente a noção de pureza, de decência, de pudor, de fidelidade conjugal, de virgindade, de pureza infantil e juvenil do que em nossos dias? O número de divórcios, de uniões ilegítimas, de mães solteiras, de aborto, de pecados contra a natureza... é de clamar aos Céus. A televisão agride os lares, levando para seu interior toda a enxurrada das sarjetas, que, infelizmente, é recebida de modo passivo pela grande maioria das famílias. Enfim, nossa época perdeu inteiramente a noção de pecado.
Conclusão
Com tudo isto visto, poderá parecer a muitos leitores quase impossível cumprir com esta devoção, sobretudo pela imperiosa necessidade de não dobrar os joelhos diante dos ídolos do mundo contemporâneo -- um dos quais a maldita tirania das modas imorais. É necessário, entretanto, ter presente que, o que aos homens é impossível não o é a Deus (cfr. Mt. 19,26). E que o caminho certo para se obter isso é Nossa Senhora.
Realmente, indaga o Pe. Thomas de Saint-Laurent "quereis transformar vossa vida? Quereis praticar facilmente as virtudes que vos parecem inacessíveis e que Deus entretanto vos pede? Quereis conhecer as alegrias inefáveis que somente o amor de Jesus pode proporcionar e que faziam as delícias dos Santos? Quereis experimentar em vós essas maravilhas?". Ele mesmo dá a magnífica e teologicamente exata resposta: "Se o quereis seriamente, não hesiteis um só segundo: dirigi-vos a Maria. Não há caminho mais direto para ir a Nosso Senhor" (4).
Além de estar, por esse modo, reparando Seu Imaculado Coração, que alegria, que paz de alma terá aquele que, livrando-se da tirania do demônio e seus sequazes, aceita o suave jugo de Deus, que o levará ao paraíso celeste! Que para tal, prezado leitor, Nossa Senhora de Fátima conceda-lhe abundantes graças.
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Notas:
(1) Mais tarde, quando o Menino Jesus lhe aparece novamente para cobrar a divulgação dessa devoção, a Irmã Lúcia levantando a dificuldade que algumas pessoas teriam para confessar-se no sábado, pediu-Lhe que fosse válida a confissão de oito dias. O Infante Menino respondeu-lhe que poderia ser até de "muitos mais dias ainda, contanto que, quando Me receberem, estejam em graça e tenham a intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria". Caso a pessoa se esquecesse, ao confessar-se, de formular essa intenção, disse Nosso Senhor que "podem formá-la na outra confissão seguinte, aproveitando a primeira ocasião que tiverem de se confessar".
(2) Aqui intérpretes afirmam que trata-se de meditar sobre um dos quinze mistérios do Rosário, pois do contrário seria praticamente impossível meditar os quinze nos quinze minutos estabelecidos por Nossa Senhora.
(3) Em Lisboa, antes de ir para o hospital, Jacinta ficou hospedada num orfanato onde foi assistida por Madre Godinho. Essa religiosa, a quem as crianças chamavam carinhosamente de "Madrinha", providencialmente tomou nota de suas palavras.
(4) Pe. Thomas de Saint-Laurent, A Virgem Maria, Série Cultura Religiosa nº 3, Artpress, São Paulo, 1996, tradução de Hélio Dias Viana, p. 11.

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